por: Paul David Tripp
Traduzido e publicado com autorização da Crossway do artigo original: https://www.crossway.org/articles/5-things-your-children-need-from-you/
Mentiras que as Crianças Acreditam
É importante entender que toda criança acredita em duas mentiras perigosas e destrutivas. Se você prestar atenção, poderá ver essas mentiras operando na vida de seus filhos. O poder dessas mentiras deve ser muito mais importante para você do que um momento ruim e frustrante que você vive com um de seus filhos.
A primeira mentira é a mentira da autonomia. O que essa mentira diz é que sou um ser humano completamente independente e, por isso, tenho o direito de viver minha vida da maneira que quiser. É a crença de que minha vida me pertence e que devo poder fazer o que quiser com minha vida para me fazer feliz. Parte dessa mentira é a crença de que ninguém deveria me dizer o que fazer.
Os pais que brigam com uma criança sobre o que comer não estão realmente brigando sobre o que comer. Não é que ele tenha uma perspectiva diferente da sua sobre dieta. Convenhamos, ela não quer saber nada sobre a dieta. Essa luta é sobre autonomia. É sobre a resistência daquela criancinha às regras. É sobre sua crença de que sua boquinha lhe pertence e ninguém lhe dirá o que colocar nela. Minha filha decidiu que não queria ervilhas na boca. Ela não tinha intenção de inserir esferas verdes em sua cavidade oral, embora nunca tivesse provado ervilhas. Então ela mantinha a mandíbula fechada com a força de um torno pneumático e não a abria. Ela não estava se defendendo das ervilhas; ela estava defendendo sua autonomia. Ela não sabia que nenhum ser humano é projetado para viver de forma independente.
A batalha sobre o que vestir não é uma luta de moda, mas de autonomia. A briga sobre se seu filho adolescente pode ir àquela festa não é, em primeiro lugar, sobre seu profundo compromisso com as comemorações de sua comunidade de colegas. Essa luta é sobre sua resistência contínua em ouvir o que ele pode ou não fazer. Todos nós, incluindo nossos filhos, resistimos a ser governados. Todos nós, incluindo nossos filhos, queremos o que queremos. Todos nós, incluindo nossos filhos, pensamos no que achamos que nos fará felizes e ficamos com raiva de qualquer um que se interponha em nosso caminho.
É impressionante ver o corpo de uma criança que ainda não consegue falar enrijecer de raiva, não só porque ela não está conseguindo o que quer, mas porque já acredita que é seu direito fazer o que quer! É chocante observar a quantidade de raiva que sai de um adolescente quando sua mãe diz não aos seus planos de fim de semana. Ele odeia autoridade — não porque odeia seus pais, mas porque acredita que é a única autoridade de que precisa. Pais, todos os dias vocês lidam com a mentira da autonomia operando no coração de seus filhos; é importante ver além da questão do momento. Não se contente em vencer uma batalha sobre a coisa, mas sempre lute pelo coração por trás da coisa.
A segunda mentira é igualmente perigosa. É a mentira da autossuficiência. Essa mentira diz ao seu filho que ele tem tudo o que precisa dentro de si para ser o que precisa ser e fazer o que precisa fazer. Ele não precisa de sua ajuda, resgate, instrução, sabedoria ou correção. Não demora muito para que você tenha que lidar com a ilusão de autossuficiência no coração de seu filho. Uma criança descobriu que seus sapatos têm cadarços que precisam ser amarrados. Então ele se senta e começa a mexer nos cadarços. Ele não tem ideia de como amarrar um laço. Ele poderia se atrapalhar com os cadarços por toda a eternidade e nunca terminar com um laço, mas quando você se abaixa para ajudá-lo, ele dá um tapa na sua mão. Esse tapa não é sobre a posse do cadarço; é sobre autossuficiência. Ele quer desesperadamente acreditar que pode se sair muito bem sem sua ajuda ou instrução. A filha adolescente que está discutindo com você enquanto você procura transmitir a ela alguma sabedoria necessária está discutindo porque ela acredita em sua autossuficiência e, por acreditar, ela acha que já tem toda a sabedoria de que precisa.
Ninguém é autônomo. Ninguém é autossuficiente. Todo mundo precisa de cuidados parentais. Acreditar em qualquer outra coisa é estar perigosamente iludido e destinado a problemas. Pais, o mais assustador é que nossos filhos acreditam nessas duas mentiras. Você pode ver isso em suas ações, reações e respostas.
(Antes do próximo tópico vale a pena adicionar uma citação do autor desse texto:
Jesus usa a palavra perdido de maneiras visualmente atraentes – a ovelha perdida, a moeda perdida, o filho perdido – e cada uma dessas imagens apresenta um aspecto do significado da condição de “perdido”. Perdido é uma daquelas palavras que carregam em si uma variedade de significados. Perdido pode significar deslocado; perdido pode significar morto; perdido pode significar derrotado; e perdido pode significar confuso. Três parábolas da Bíblia captam bem a conotação bíblica de perdido [Leia essas parábolas em Lucas 15.]. Entender o ponto central dessas três parábolas o ajudará a começar a ter uma ideia de quem seus filhos são e o que Deus o chamou para fazer como pai ou mãe. Lembre-se, sua atenção deve estar focada não apenas no comportamento de seu filho, mas, de forma mais essencial, na condição que produz esse comportamento. Desse modo, você pode deixar de ser reativo e, nesses momentos espontâneos, cumprir seu papel de pai ou mãe com um senso de propósito e direção. Lucas 15 oferece tremenda ajuda aos pais, pois, por meio de imagens vívidas, traz luz à condição (“perdido”) que é a causa de tudo com o que você precisa lidar nos pensamentos, desejos, escolhas, palavras e ações de seus filhos.)
Então, o que as crianças perdidas precisam?
1. Discernimento.
O problema das crianças perdidas é que elas não se veem como perdidas e, por isso, não entendem o quanto precisam de seus cuidados parentais. Portanto, nossos filhos não precisam apenas ouvir o que fazer, mas também precisam ser capacitados para ver. Precisamos procurar maneiras de ajudá-los a entender a condição de perigo que faz com que seu comportamento seja perturbador.
2. Compaixão.
Não faz sentido ficar bravo com alguém que está perdido. Não faz sentido fazer disso uma ofensa pessoal contra você. Não faz sentido condenar uma pessoa perdida com palavras ou jogar uma punição nela e ir embora. Pessoas perdidas precisam de compreensão e compaixão. Crianças perdidas não precisam de pais que se irritam com sua perda, mas sim que lamentam e desejam que sejam encontradas.
3. Esperança.
À medida que nossos filhos começam a admitir a condição em que se encontram e a reconhecer o perigo que representam para si mesmos, eles precisam ter certeza de que há ajuda disponível. Eles precisam saber que não apenas não somos seus adversários, mas também seus aliados. Estamos aqui para fazer tudo o que pudermos para protegê-los, apoiá-los e orientá-los. Mais ainda, eles precisam saber que Deus enviou seu Filho à Terra para que, quando começarem a confessar sua necessidade e clamar por ajuda, tenham exatamente a ajuda de que precisam.
4. Resgate.
Ser pai não é uma missão de controle de comportamento; é uma missão de resgate do coração. A única esperança para uma criança perdida é uma transformação radical de seu coração. Como pais, não temos capacidade de mudar o coração de nossos filhos, mas o Pai celestial o faz, e nós somos suas ferramentas na vida de nossos filhos. Portanto, não nos contentamos com o anúncio de regras, a ameaça de punição e a imposição de consequências. Estamos procurando todas as oportunidades para abordar os problemas do coração de nossos filhos, orando para que, ao fazê-lo, Deus opere neles a mudança que somente ele pode realizar.
(Para ajuda no treinamento do coração das crianças indicamos o livro Treinando Corações Ensinando Mentes.)
5. Sabedoria.
Nossos filhos precisam de sabedoria para saber quando dizer não. Uma vida de sucesso é dizer não, mas não para as autoridades em sua vida, ou para as pessoas que você foi chamado para amar, ou para o chamado de Deus, mas não para si mesmo. Em sua perdição, nossos filhos pensarão coisas que não deveriam pensar, desejarão coisas que não deveriam desejar e serão puxados por emoções perigosas e tentações sedutoras. E se não aprenderem quando e como dizer não, acabarão vivendo como nunca deveriam viver.
Então, pais, qual é o ponto principal? Bem, assim como Jesus veio buscar e salvar os que estão perdidos, ele nos chama para amar e resgatar nossos filhos perdidos. Não cedemos à irritação, frustração, impaciência ou desânimo. Nós nos movemos em direção aos nossos filhos com a graça do perdão, sabedoria, correção e resgate, e oramos todos os dias para que Deus capacite nosso trabalho como pais e que ele mude nossos filhos naquele nível mais profundo em que todo ser humano, incluindo nós, precisa ser mudado.
Este artigo foi adaptado de Parenting: 14 Gospel Principles That Can Radially Change Your Family, de Paul David Tripp.
Paul David Tripp
Paul David Tripp (DMin, Westminster Theological Seminary) é pastor, autor premiado e palestrante em conferências internacionais. Ele escreveu vários livros, incluindo o devocional diário best-seller New Morning Mercies e Age of Opportunity: A Biblical Guide to Parenting Teens. Seu ministério sem fins lucrativos existe para conectar o poder transformador de Jesus Cristo à vida cotidiana. Tripp mora na Filadélfia com sua esposa, Luella, e eles têm quatro filhos adultos.