A Reforma Protestante

A Reforma Protestante

A reforma Protestante foi o desejo de se voltar o mais próximo possível, na práxis, na ética, no culto e na vida da Igreja e dos cristãos, ao padrão encontrado nas Escrituras. Para tanto, nossos pais reformadores passaram a testar no crivo das Escrituras todas as coisas que envolviam a dinâmica da fé. Aquilo que não pôde sustentar-se diante da Palavra de Deus ou que não foi possível provar como sendo diretamente ordenado pela Bíblia ou que pela luz da natureza e prudência cristã, não encontrasse respaldo nas orientações gerais inferidas da revelação bíblica, deveria ser abandonado sem mais considerações.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Por volta do século XV, final da Idade Média, a religião cristã universal ou católica havia se distanciado completamente do cristianismo bíblico em muitos sentidos. Tanto na sua doutrina e nas práticas litúrgicas, quanto na vida moral. Doutrinas como a salvação pelas obras, o purgatório, a mariolatria, a suprema autoridade papal, o celibato e o livre arbítrio foram desenvolvidas pela Igreja medieval.

Alguns no seio da própria Igreja Católica começaram a discernir e a denunciar os abusos cometidos pela Igreja. Surgiram movimentos de protesto desde o século XVII, com os Petrobrussianos, os Cataristas e Valdenses e os irmãos. Os pré-reformadores, João Wycliff na Inglaterra, e João Huss, na Boêmia, instalaram,nos séculos XIV e XV, movimentos contra a Igreja Católica, contra a corrupção do clero e contra a autoridade papal.

Nesse contexto de movimentação, um destes monges, dedicando-se ao estudo sincero das Escrituras Sagradas, passou a compreender antigas doutrinas cristãs, e passou a lutar por uma reforma religiosa nas práticas da Igreja. Esse homem foi Martinho Lutero, conhecido como o iniciador da Reforma.

No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou as famosas 95 teses na porta da capela de Wittenberg, na Alemanha, denunciando o falso ensino e as práticas da Igreja Católica consideradas corrompidas, como a venda de indulgências, a simonia, a avareza, a ambição política e a degradação dos costumes morais por parte de grande parte do clero. Essas teses foram copiadas, publicadas, e distribuídas por toda a Europa em poucos meses e se tornaram um instrumento na promoção da Reforma do século XVI, a qual se aprofundou, adquirindo caráter teológico, eclesiástico e litúrgico.

1 DOUTRINAS

A doutrina considerada mais marcante da Reforma foi a da justificação pela graça de Deus, somente pela fé, não atribuindo nenhum valor salvífico às boas obras humanas.

A doutrina do sacerdócio individual do crente foi também um dos pilares da Reforma, pois apresentando a pessoa de Cristo como único mediador entre Deus e os homens, concedia a cada salvo acesso direto à presença de Deus por intermédio do sacrifício de Cristo na cruz e pela operação do Espírito no homem interior, sem a necessidade da intermediação de qualquer outro ser, o que pôs em xeque o ofício dos padres, dos santos, de Maria e do Papa como intermediários entre os homens e Deus.


E, por fim, a Reforma apresentou o conceito da soberania e grandeza de Deus e a aceitação de todos os Seus atributos como revelados nas Escrituras Sagradas (amor, justiça, fidelidade, santidade, bondade, severidade, para citar alguns), de forma que só Ele é infalível, e sua autoridade não pode ser compartilhada com a do papa ou Concílios da Igreja.

2 A TRADUÇÃO DA BÍBLIA

A Reforma levou a traduções da Bíblia para as línguas comuns do povo, para que pessoas comuns, não apenas clérigos, pudessem lê-la e entendê-la. Além disso, com a invenção da prensa tipográfica por Johannes Gutenberg na Alemanha por volta de 1440, pouco antes da Reforma, as Bíblias puderam ser impressas em massa a preços acessíveis.

Wycliff foi o responsável pela primeira tradução da Bíblia para a língua inglesa.

Já em 1517, Lutero havia traduzido partes da Bíblia, como alguns salmos, os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor, etc. Em 1521, enquanto era forçado a ficar em Wartburg, Lutero traduziu o Novo Testamento com base na segunda edição de Erasmo (1517) do grego original e inspirado por algumas das escolhas feitas por este humanista em sua tradução para o latim.

Em 1523, ele traduziu o Pentateuco e, em 1524, os Salmos com base no Antigo Testamento hebraico e na tradução grega dele – a Septuaginta. Então, com um grupo de tradutores (Caspar Cruciger, 1504 -1548; Justus Jonas 1493 -1555; Mattaüs Aurogallus, 1490 -1543) que se reuniam semanalmente, ele traduziu todos os outros livros do Antigo Testamento. A primeira edição logo se esgotou. Muitos outros se seguiram durante a vida de Lutero, entre os quais um foi ilustrado por Albrecht Dürer e outro por Lucas Cranach, o Velho. Em 1546, 500.000 cópias de toda a Bíblia, publicadas em 93 cidades, estavam em circulação.

3 A EDUCAÇÃO

Desde antes da Reforma, já se falava sobre a necessidade de mudanças na educação dentro de moldes cristãos. Assim, o desenvolvimento da educação reformada não começou nem terminou com a obra dos primeiros reformadores. Antes de Lutero, cristãos humanistas publicaram tratados promovendo a melhoria educacional e o próprio Renascimento tinha como característica distintiva a revalorização do aprendizado em bases cristãs.

Na Alemanha, o resultado do esforço de Lutero, realizado na prática por Melânchthon e outros colaboradores, foi a promoção da educação pública, com maior desenvolvimento do Ensino Médio, a partir da criação de numerosos colégios secundários, em substituição às escolas catedrais.

Quanto à natureza do ensino oferecido nas escolas reformadas, destaca-se “o ensino na língua vernácula e, portanto, ensino de cunho nacional” (LUZURIAGA, 1987, p 111) e a valorização dos clássicos gregos e do conteúdo humanista (leitura, escrita, cálculo), sendo todos eles submetidos ao escrutínio das Escrituras Sagradas, que passaram a ser lidas, estudadas, explicadas, memorizadas, cantadas e eram apresentadas como a regra de fé e de toda conduta também no âmbito educacional.

O caráter abrangente, para meninos e meninas, ricos e pobres, e a frequência obrigatória decretada pelo Estado constituem avanços notáveis da pedagogia Luterana. Luzuriaga destaca os avanços de uma organização tríplice da educação pública na Alemanha, cujo molde delineia os sistemas educacionais de nosso tempo.

4 DOCUMENTOS DE FÉ

Outro fruto da reforma foi a elaboração de documentos para defesa e estudo da fé.

A maioria das confissões das igrejas reformadas e luteranas foi composta por autores individuais, ou por um pequeno grupo de teólogos a quem coube a tarefa de delinear um padrão de doutrina.

Durante os anos de 1643 a 1653, teólogos da Inglaterra e Escócia estiveram reunidos com o propósito, entre outras coisas, de reestruturar a Igreja da Inglaterra, seguindo os passos da Reforma do Século 16. Para isso sentiram a necessidade de formular o padrão doutrinário da Confissão de Fé de Westminster, que consiste em ensinamentos sistemáticos das doutrinas fundamentais encontradas na Palavra de Deus, em forma de proposições e em uma relação de textos bíblicos que fundamentam as doutrinas ensinadas. Os catecismos apresentam o mesmo ensino da Confissão de Fé, porém utilizando a forma de perguntas e respostas. O Catecismo Maior, com suas 196 perguntas e respostas, objetiva o ensino das doutrinas abordadas pela Confissão de Fé a adultos. O Catecismo Menor (ou Breve Catecismo) tem 107 perguntas e respostas. Ele também ensina as mesmas doutrinas de uma forma mais assimilável às crianças – com textos mais curtos tanto para as perguntas, como para as respostas. O conjunto dessas “ferramentas de ensino” tem sido adotado por igrejas fiéis à Palavra de Deus, Reformadas e Presbiterianas, em vários países.

CONCLUSÃO

A Reforma é entendida como um dos eventos mais cruciais na história do Cristianismo depois da vinda de Cristo ao mundo. Ela imprimiu novos rumos à Religião Cristã, e o fez a partir do retorno ao Cristianismo simples da Igreja Primitiva e da redescoberta da Bíblia como a palavra autoritativa de Deus. Deste evento ocorrido no século XVI originaram-se as Igrejas protestantes, que se opuseram e se distanciaram do Catolicismo romano em suas doutrinas e práticas, estabelecendo princípios que não se limitaram àquele tempo e espaço históricos, mas até hoje orientam a vida das Igrejas.

REFERÊNCIAS

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