As Responsabilidades e Dificuldades dos Pais
Quando tentamos obedecer ao mandamento de contar aos nossos filhos as histórias da Bíblia, enfrentamos dificuldades; às vezes nos deparamos com passagens de conteúdo mais adulto e impróprio ou explícito demais para crianças; às vezes, com passagens complicadas e de difícil interpretação; outras vezes encontramos longas histórias e listas de nomes e números que tornam cansativa a leitura corrida para as crianças. Além disso, quando tentamos seguir a leitura sequencial dos livros bíblicos, descobrimos que os livros não são todos organizados em ordem cronológica, mas alguns estão agrupados por estilos ou relevância, como os profetas, e ainda outros com passagens paralelas em diferentes livros, como os evangelhos, o que acaba interrompendo ou confundindo a sequência cronológica da narrativa e dificultando que crianças menores percebam as conexões de tempo, de espaço, e os vários relacionamentos, analogias e aplicações que a Palavra de Deus contém.
É a função própria dos teólogos e pregadores esclarecer essas dificuldades para nós Há inclusive muitos recursos como mapas, linhas do tempo e outros auxílios para nos ajudar a estudar o contexto histórico, geográfico, cultural, linguístico e arqueológico que nos auxiliam na melhor compreensão e aplicação da narrativa bíblica. Mas nem sempre temos o tempo e a dedicação que deveríamos para estudar esses recursos. Ainda assim, nós, pais, somos os pastores de nossos filhos e precisamos contar essas histórias de maneira adequada à mente das nossas crianças, responder suas muitas perguntas, e ainda aplicá-las aos nossos dias e às suas vidas.
O Nascimento dessa Obra
Há muitas décadas, uma mãe chamada Catherine Vos, estava a procura de uma material que a ajudasse diante dessas dificuldades. Após buscar em vão durante muito tempo nas prateleiras de todas as livrarias e bibliotecas que conhecia Catherine, mãe de 4 filhos e esposa do teólogo reformado e professor de teologia bíblica em Princeton, Gherardus Vos, resolveu usar seu dom de escritora e seu conhecimento profundo e acurado da Bíblia para produzir as suas Histórias Bíblicas para Crianças, um projeto para a vida toda. Ela desejava que seu livro expusesse as histórias bíblicas a partir do contexto reformado da história da redenção, em uma ordem cronológica, com uma pitada de doutrinas essenciais e contadas em linguagem familiar. Ela tomou como base o modo como a sua piedosa mãe havia contado a ela quando criança, com as devidas seleções, explicações e lições que pais sabem adaptar para a idade e capacidade de compreensão dos seus filhos.
Deus abençoou essa sua tarefa monumental para a edificação de centenas e milhares de famílias na língua inglesa, desde sua primeira publicação em 1934. Essa obra veio a se tornar um verdadeiro clássico cristão infantil, passando por várias edições e impressões e tendo sido traduzida para diversas línguas, estando agora presente nas prateleiras de casas de famílias piedosas e das melhores livrarias cristãs, e nas listas de livros mais recomendados por pais, educadores e teólogos do mundo todo.
A Importância das Histórias da Bíblia
Essas histórias não podem tomar o lugar da leitura da própria Escritura, que somente é a Palavra autoritativa, suficiente, clara e poderosa de Deus para o seu povo de todas as idades e que é imprescindível como o alimento espiritual da igreja, das famílias e de cada crente. Ainda assim, à medida que somos fiéis ao relato bíblico, parece haver um efeito especial de instrução, preservação e transmissão da fé entre as gerações quando os feitos de Deus são contados oralmente de pais para seus filhos, em obediência ao mandamento de Deus e com confiança nas promessas divinas, como lemos no Salmo 78.3-7:
O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos.
Histórias são o alimento próprio para a alma infantil, assim como o leite é para o crescimento do seu corpo. E, dentre as muitas histórias e fábulas que normalmente se oferecem aos pequeninos, as histórias bíblicas deveriam ser as primeiras e as mais contadas às crianças de todas as idades. Elas são, de longe, as melhores histórias, porque nos foram contadas pelo próprio Deus; porque são verdadeiras, profundas, e riquíssimas de ensino doutrinário e moral; e principalmente porque, quando contadas na totalidade, elas formam a maior e mais bela de todas as histórias, a História da Redenção.
Essa narrativa sequencial revela às crianças, por um lado, quem elas são e o estado caído em que o mundo se encontra; mas também revela a mente, o caráter e o coração de Deus, e o seu plano eterno de redenção, o próprio caminho para a vida eterna. Que conhecimento poderia ser mais importante que esse? Conhecer a Deus e as suas obras na história são essenciais para a nossa salvação e crescimento espiritual, para podermos glorificá-lo e gozá-lo para sempre, e ainda para formar a nossa cosmovisão cristã, essa lente pelas quais podemos enxergar todas as coisas da ótica de Deus, dando-nos a mente de Cristo. Que negligência imperdoável seria privar nossos filhos das histórias bíblicas, ainda que lhes provêssemos uma imensa biblioteca com os mais caros e belos livros do mundo.
Karis Beatriz Gueiros Anglada Davis