O ensino por meio de perguntas e respostas tem sido utilizado através dos séculos e desperta até o interesse contemporâneo de alguns estudos acadêmicos. Um destes afirma: “Apesar da capacidade existente no questionamento de alunos para um aprofundamento na aprendizagem, a maior parte deste potencial permanece sem ser explorado”.
Essa metodologia, ou sua solidificação, tem sido atribuída a Sócrates e chamada de “Método Socrático”. Na realidade, o processo de ensino-aprendizagem fundamentado em perguntas começa com o Deus soberano do Universo e está presente em vários trechos das Escrituras. Antes da queda, o homem possuía aprendizagem perfeita e direta da parte de Deus. Na queda, tudo começa com uma pergunta, seguida de uma séria de outras: “Onde estás”? (Gn 3.9) ou, “Que é isso que fizeste”? (Gn 3.13). Após cada pergunta há uma comunicação e uma lição a ser ensinada e aprendida. Sócrates utilizou-se de perguntas, mas existe uma diferença fundamental com esse tipo de ensino registrado na Bíblia e a forma como Sócrates o utilizou.
O Método Socrático é realmente baseado na utilização de perguntas e na busca por respostas, mas tem como base a autonomia humana na vida e no pensar. Não temos nenhum registro original do que Sócrates tenha possivelmente dito ou escrito, mas temos os escritos do seu discípulo, Platão, que descreveu a filosofia e metodologia de Sócrates. Esta citação é normalmente considerada um resumo da ideia socrática sobre o seu método, descrita por Platão: “Eu não tenho como ensinar qualquer coisa a alguém; posso apenas auxiliá-los a pensar”. Aqui temos a formulação seminal de uma visão equivocada do ensino – a de que o professor não tem nada a transmitir, mas age apenas como “facilitador” do aprendizado. Essa abordagem não somente prejudica o aluno, como também diminui o papel do professor.
A visão bíblica que fundamenta a metodologia dos teólogos de Westminster na elaboração dos catecismos é bastante diferente. Vejam na pergunta a Caim: “Onde está Abel, teu irmão”? (Gn 4.) Não é porque Deus não soubesse da resposta que ele pergunta. Ele tinha pleno conhecimento de que Abel estava morto, mas era uma maneira de provocar a reflexão e ensinar uma lição. Não é Deus “facilitador”, mas Deus Mestre, conhecedor do que pergunta. Semelhantemente, no Novo Testamento, temos o registro de Jesus Cristo, o
Mestre dos Mestres, perguntando aos seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem”? (Mt 16.13) E, depois de ouvir a resposta, logo na sequência, “Mas vós... quem dizeis que eu sou”? (v.15). As perguntas são feitas como método de ensino, não porque Cristo não soubesse do que estavam falando sobre ele, ou do que estava no coração e mente dos seus discípulos. Ele “...não precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25). Assim, Jesus não é um mero “facilitador” e sim conhecedor pleno de tudo e de todos e é exatamente para ensinar doutrina a eles que ele faz perguntas. A doutrina a ser ensinada, partindo da verdade da afirmação de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16), é que a declaração não procede da sua sapiência ou do seu coração pecaminoso, mas do Espírito do Deus Soberano, trabalhando na vida de Pedro e na sua assimilação cognitiva das verdades eternas (v. 17).
É importante, também, que esta afirmação de Pedro, que é veraz e expressa o que a Bíblia ensina a respeito do Messias, o único nome no qual há salvação, é uma confissão. Temos então o princípio e base para as nossas Confissões Reformadas, que nada mais são do que uma exposição dos ensinamentos da Bíblia em forma sistemática, especialmente a Confissão de Fé de Westminster. Padrões confessionais (símbolos de fé) não inovaram doutrinas, mas se firmaram nas doutrinas ensinadas na Palavra de Deus, que estava soterrada por anos sob um entulho, pseudo-espiritual, formado por tradições humanas que encobriam a Bíblia e sua mensagem às mentes e corações de crianças e adultos durante séculos. Não devemos estranhar, portanto, termos uma Confissão de Fé, nem o método de ensino-aprendizagem que se seguiu a elas: os catecismos. Durante os anos de 1643 a 1653, teólogos da Inglaterra e Escócia estiveram reunidos com o propósito, entre outras coisas, de reestruturar a Igreja da Inglaterra, seguindo os passos da Reforma do Século 16. Para isso sentiram a necessidade de formular o padrão doutrinário da Confissão de Fé de Westminster, que consiste em ensinamentos sistemáticos das doutrinas fundamentais encontradas na Palavra de Deus, em forma de proposições e em uma relação de textos bíblicos que fundamentam as doutrinas ensinadas. Os catecismos apresentam o mesmo ensino da Confissão de Fé, porém utilizando a forma de perguntas e respostas.
O Catecismo Maior, com suas 196 perguntas e respostas, objetiva o ensino das doutrinas abordadas pela Confissão de Fé a adultos. O Catecismo Menor (ou Breve Catecismo) tem 107 perguntas e respostas. Ele também ensina as mesmas doutrinas de uma forma mais assimilável às crianças – com textos mais curtos tanto para as perguntas, como para as respostas. O conjunto dessas “ferramentas de ensino” tem sido adotado por igrejas fiéis à Palavra de Deus, Reformadas e Presbiterianas, em vários países.
O livro Treinando Corações Ensinando Mentes desenvolve o ensino a partir do Catecismo Menor. Após cada pergunta e respectiva resposta, a autora expande o ensino da doutrina por uma semana (um segmento para cada dia, de segunda a sábado), de tal maneira que a criança é levada a refletir sobre as verdades ensinadas e a internalizar a doutrina, marcando o coração e recebendo direcionamentos que serão úteis por toda a vida. O título não poderia ser mais feliz.
Professores sabem que o ensino eficaz é também gerador de perguntas adicionais, como no caso de Cristo Ensinando a Mulher Samaritana, em (João 4.11-12, 29, 39). Cada uma dessas perguntas ramificadas é nova oportunidade para mais ensino.
Aventuro-me a dizer que este livro resultará também em muito benefício para os pais e muitos outros adultos que concentrarem sua atenção nesses princípios e valores eternos ensinados desta maneira.
Temos, portanto, que agradecer e prezar a dádiva de Deus à igreja de Cristo, que são a Confissão e os Catecismos. Esses textos têm servido de apoio para que ela se mantenha fiel ao longo de séculos. Mas devemos somar a isso um agradecimento especial sobre este livro, em oração, para que ele sirva para transformar e preservar muitas vidas pela sua leitura, enquanto desperte o apreço pela Palavra e por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Solano Portela, B.A., M.Div., D.H.L.
Presbítero e membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, São Paulo, graduado em Ciências Exatas (B.A em Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemática no Bíblical Tehological Seminary (EUA, 1974). Solano Portela, além de suas atividades no campo empresarial, em São Paulo, é professor, escritor, educador, tradutor e conferencista. É casado co Elizabeth Zekveld Portela e tem 3 filhos (David, Daniel e Darius) e uma filha (Grace).