Artigo por David Mathis
Tem interesse na leitura em voz alta, mas não sabe por onde começar? Leia abaixo o artigo de David Mathis:
Recentemente, completei uma longa jornada com meus filhos gêmeos de 11 anos. A jornada levou meses, mas não exigiu aviões, trens ou automóveis. Na verdade, nunca saímos de casa para esta viagem em particular, embora tenhamos nos aventurado do lado de fora uma vez para sentar perto de uma fogueira de outono.
Esta foi uma jornada de mais de um milhão de palavras — 1.084.170 para ser exato. E foi uma jornada na qual viajamos cada milha, cada capítulo e cada palavra juntos.
Li em voz alta para meus filhos os sete livros da série Harry Potter ao longo de cerca de 18 meses. Iniciando quando o "lockdown" da COVID começou na primavera de 2020 e terminando em setembro de 2021. Investimos duas ou três noites por semana nisso, parando por algumas semanas entre os livros. Mas continuamos avançando um capítulo (ou dois) de cada vez.
Minha melhor estimativa é que levou, no total, cerca de cem horas.
O Reviver da Leitura em Voz Alta
Assim que me tornei pai, ler em voz alta mais de um milhão de palavras, por cem horas, teria parecido não apenas assustador, mas impossível. Talvez você se sinta da mesma forma agora. Eu entendo, eu já passei por isso. Mas, por favor, não desista ainda. Ler em voz alta, especialmente para nossos filhos, é uma habilidade que vale a pena desenvolver. Uma que é aprimorada não apenas ao longo de semanas e meses, mas ao longo de anos.
Minha querida esposa, com a contribuição de amigos e um podcast chamado O Reviver da Leitura em Voz Alta (Tradução livre de Read-Aloud Revival), me influenciou a considerar que oportunidade e alegria poderia ser ler em voz alta como um hábito para nossos filhos — não a contragosto, mas ansiosamente. Decidimos desde cedo como pais que pouparíamos despesas em outras áreas para podermos investir bem em bons livros infantis. E que faríamos o nosso melhor para limitar e dizer não a outras atividades — especialmente aquelas que envolvem telas! — para colocar a vida em pausa, sentar, desacelerar e aproveitar a leitura em voz alta para nossos filhos.
Dez anos atrás, sem nenhuma experiência de leitura em voz alta, eu me sentia quase sem fôlego para ler um livro infantil longo para nossos filhos pequenos depois de um dia cansativo de trabalho. Eu ainda não tinha desenvolvido nenhuma resistência para ler em voz alta. Eu não tinha feito nenhuma leitura significativa e regular em voz alta na minha vida. Mas o mais crítico é que eu ainda não tinha descoberto a alegria que pode ser estar presente, envolvido e contagiosamente feliz com seus filhos nesses momentos reunidos em torno de um livro aberto.
Lá e Cá Novamente
Um gancho para alguns pais é que amamos fazer vozes. Isso foi particularmente prazeroso para mim quando os meninos atingiram a idade suficiente (acho que tinham 5 anos) para ler O Hobbit para eles. Usando meu sotaque britânico amador para Bilbo, vozes ásperas para os anões e (claro) minhas melhores imitações de Ian McKellen e Andy Serkis para Gandalf e Gollum. Agora, este não era um livro cartonado — levou semanas e paciência.
Às vezes, os meninos ficavam entediados (Tolkien não faz doces), mas nós seguimos em frente. Havia lições de vida nisso para todos nós. E no final, sentimos que havíamos conquistado algo significativo juntos. Lemos um livro grande juntos — e minhas preocupações de que Gollum pudesse ser muito assustador e aparecer em pesadelos foram canalizadas por eu estar lá com eles, lendo para eles e conversando com eles sobre seus medos. Eu estava lá para mediar os momentos mais assustadores, como enigmas no escuro.
Da mesma forma, minha incerteza sobre se os meninos, aos 10 anos, estavam prontos para lidar com toda a série Harry Potter foi um bom motivo para fazer a jornada com eles. Sem ter certeza, eu tinha duas opções preguiçosas na minha frente. Eu poderia ter engavetado minhas preocupações e simplesmente deixado que eles lessem por si mesmos ou ouvissem os audiolivros. Ou eu poderia ter errado por excesso de cautela e continuado dizendo a eles: "Ainda não, ainda não". Em vez disso, decidi fazer a jornada com eles.
Aquilo para o que estavam prontos, nós aproveitamos juntos. Aquilo para que não estavam preparados, eu mediava, pronto para pausar e dar contexto, pronto para parar e explicar, pronto para responder perguntas e pronto para perguntar como suas mentes e corações estavam recebendo isso. Acima de tudo, estando lá, eu estava pronto para processar em voz alta como eu mesmo estava recebendo a história com olhos cristãos, pronto para destacar não apenas indicadores do evangelho (e há muitos, especialmente no livro final!), mas também lições de vida importantes (não faltam delas também, particularmente nos monólogos de Dumbledore).
E durante todo esse tempo, com crianças de 3 a 6 a 11 anos, a resistência do papai para ler em voz alta estava aumentando. E conforme minha resistência e experiência para ler em voz alta aumentaram, minha alegria também aumentou.
A Palavra de Deus, Leia em Voz Alta
Assim como minha esposa tão prestativamente me incentivou a ler em voz alta para nossos filhos, eu encorajaria outras mães e pais cristãos a fazerem o mesmo — a descobrir por si mesmo a oportunidade e alegria que ler em voz alta para seus filhos pode ser. Ler em voz alta é, afinal, um passatempo notavelmente cristão.
Por vinte séculos, ler em voz alta tem sido essencial para o povo de Cristo ouvir sua voz. A imprensa existe há apenas um quarto da história da igreja, e só recentemente nossas prateleiras em casa foram preenchidas com várias Bíblias. Cristo falou ao seu povo ao longo da história por meio da leitura em voz alta das Escrituras, no coração da assembleia reunida da igreja. Como o apóstolo Paulo orienta seu protegido e delegado em Éfeso, "Dedique-se à leitura pública das Escrituras" (1 Timóteo 4.13). Sem cópias pessoais da Bíblia em casa e em smartphones, de que outra forma o povo de Cristo ouviria sua palavra nas palavras dos apóstolos? Os pastores tiveram que lê-la em voz alta.
Então Paulo escreveu suas cartas para serem levadas às igrejas e lidas em voz alta (Efésios 3.4; Colossenses 4.16; 1 Tessalonicenses 5.27). Assim também, o apóstolo João escreveu sua visão apocalíptica, antecipando sua leitura em voz alta (Apocalipse 1.3). E isso, é claro, aconteceu em um contexto judaico do primeiro século, no qual o povo de Deus havia sido por muito tempo o povo de um Livro, e no centro da vida da sinagoga estava a leitura em voz alta das Escrituras (Atos 13.15, 27; 15.21, 31; 2 Coríntios 3.14–15), como o próprio Jesus fez naquela ocasião memorável em sua cidade natal, Nazaré (Lucas 4.16).
Alegrias da Vida Analógica
Como pais que prezam esses anos que passam rapidamente com nossos filhos, amamos como ler em voz alta juntos constrói o vocabulário de nossos filhos, ensina-os sobre o mundo e as experiências dos outros e desenvolve vínculos e relacionamentos conosco. E, claro, o tempo gasto lendo em voz alta para nossos filhos é um tempo fora das telas — o que pode ser bom para eles e para nós.
E para os pais em particular, Jim Trelease, autor de O Manual da Leitura em Voz Alta, agora em sua oitava edição, observa "o importante papel dos pais no desenvolvimento de meninos como leitores". Trelease diz na primeira edição de 1982: "Eu pensei que tínhamos um probleminha com a leitura dos homens. Não mais. Agora é um enorme problema." Sua primeira edição tinha algumas páginas para os pais. Sua última edição tem um capítulo inteiro chamado "A Importância dos Pais".
Não é tarde demais
Para mães e pais que não estão lendo em voz alta regularmente para seus filhos, eu os encorajo a tentar e persistir por um tempo mais longo, apesar do atrito inicial. Uma ou duas vezes, ou algumas semanas, não será tempo suficiente para você realmente ver os efeitos, desenvolver sua resistência e aprender a aproveitar o que um hábito real pode produzir.
Talvez meu principal conselho seja ler com energia. Quando papai e mamãe se dedicam mais, toda a família aproveita mais. Mesmo depois de um longo dia, vale a pena se esforçar para não apenas seguir os movimentos e ler monótono. Coloque energia nisso. Coloque mais entusiasmo do que você pensa ser necessário. Leia com cor e calor. Faça vozes, se você for desse tipo. Busque alegria contagiante, não tédio contagiante. Você é o professor, não o livro. O livro é seu suporte, seu meio, seu contexto para o relacionamento com seus filhos e sua oportunidade de investir neles, em sua maturidade e em sua personalidade.
Joia da Coroa
Para pais como eu, que querem aproveitar ao máximo a leitura em voz alta não apenas para entreter nossos filhos, mas para discipulá-los, um cuidado que devomos tomar é não pregar ou moralizar com muita frequência — e, por outro lado, não perder completamente os momentos importantes de ensino. Tento ser sensível aos corações, ao estado de alerta e aos níveis de interesse dos meus filhos. Quando eles estão entediados, mal-humorados ou indispostos, eu me atenho ao livro e leio por períodos mais curtos. Quando eles estão arrebatados pela história, considero que é um momento melhor para fazer uma pausa e transmitir princípios-chave ou lições de vida, e ler por mais tempo.
Da mesma forma, eu encorajo tanto a leitura de livros engraçados, onde vocês riem juntos (como Silly Tilly ou Caps for Sale) como de livros sérios. As crianças estão prontas para histórias diferentes em idades diferentes. Por causa do meu amor especial pela Terra Média, nosso primeiro livro grande e sério foi O Hobbit. Então começamos Nárnia e depois seguimos para outra série. Quando a COVID chegou, finalmente pareceu o momento certo para Potter. Agora, com essa jornada para trás, começamos O Senhor dos Anéis com nossos filhos de 11 anos e O Hobbit com nossa filha de 7 anos.
Mas a joia da coroa da leitura em voz alta não é Tolkien, Lewis ou Rowling. É Deus. Desde o começo, de livros cartonados a livros de histórias bíblicas, até a leitura da Palavra de Fato, estamos treinando nossos filhos para ouvir as palavras do próprio Deus nas Escrituras e recebê-las com alegria.
Da leitura em voz alta, o maior privilégio de todos é ler a Bíblia em voz alta.
David Mathis (@davidcmathis) é editor executivo da Desiring God e pastor da Igreja Cities. Ele é marido, pai de quatro filhos e autor de Trabalhadores para Sua Alegria: O Chamado de Cristo para Líderes Cristãos (Tradução Livre de "Workers for Your Joy: The Call of Christ on Christian Leaders (2022)".
Nota: Os textos traduzidos e publicados neste blog não refletem, necessariamente, todas as crenças da Editora Shemá e de sua equipe. As opiniões e posições expressas são de total responsabilidade do autor. Nossa intenção é oferecer conteúdos informativos que possam apoiar as famílias brasileiras em sua caminhada de fé. Reforçamos que cabe a cada família, à luz das Escrituras, avaliar e discernir se cada reflexão contribui para a edificação do Reino de Deus.
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