Entrevista com John Piper
Transcrição de Áudio do Podcast "Ask Pastor John" da Desiring God.
Uma razão pela qual ter filhos é tão assustador é por causa do equilíbrio exigido de nós pais. Não queremos ser muito rigorosos ou muito brandos. Não olhar apenas para as consequências e não ser tão bondoso a ponto de ignorar a rebelião. Nessa busca por equilíbrio, vem a pergunta de uma jovem mãe que quer ser gentil, mas que espera obediência. O nome dela é Emily.
"Olá, pastor John, e obrigada pelo seu ministério. Ele me ajudou imensamente a me deleitar em Deus. Recentemente, travei tentando entender como equilibrar duas facetas aparentemente contraditórias do caráter bíblico na criação de meus dois filhos pequenos: (1) mostrar bondade, humildade semelhante à de Cristo e servidão graciosa (Filipenses 2:1-11) e; (2) exigir honra, respeito e obediência de meus filhos (Efésios 6:1-3). Como funciona a disciplina nesses dois aspectos? Como disciplinar as crianças com humildade e bondade, mantendo minha posição de respeito e autoridade? Sinto-me presa entre ser muito dura impondo obediência e, tentar ser 'bondosa' depois e talvez exigir pouca obediência e respeito. Estou tão confusa. Você pode ajudar uma mãezinha?"
Crianças Moldadas Pelo Evangelho
Espero que sim, porque Emily fez uma pergunta excelente e absolutamente central. Essa pergunta atinge a essência da paternidade e maternidade evangélica. Como criar filhos que respeitem humildemente autoridades dada por Deus, sejam pais, cônjuges, professores, policiais, pastores ou leis cívicas?
Mas, ao mesmo tempo, veja também que o padrão de liderança de Deus é a liderança servil. Essa liderança não é sinônimo de auto exaltação, orgulho, vanglória ou tomada de poder. Mas busca o bem dos outros mesmo quando é custoso e, os considera superiores a si mesmo (Filipenses 2:3-11).
Em outras palavras, o desafio da criação de filhos é como criar jovens verdadeiramente moldados pelo evangelho.
Antes de dar qualquer conselho específico, devo lembrar a todos uma coisa:
Não importa quão excelentemente ensinemos e sejamos modelo de uma liderança no evangelho. Nós, pais, não somos a influência decisiva para que nossos filhos venham à fé e andem no que ensinamos.
Somos uma grande influência, mas não somos a influência decisiva e final. Por isso envolvemos todas nossas ações em oração e não nos sobrecarregamos com o fardo de ser Deus . Fardo esse que simplesmente não podemos suportar.
Mostrar Bondade e Esperar Obediência: Seis Sugestões
Agora, de volta à questão específica. Torno-a ainda mais paradoxal: Como obedecer o mandamento de dar a outra face enquanto disciplina uma criança por desobediência?
Como você exerce "o amor tudo suporta" (1 Coríntios 13:7) enquanto exige o cumprimento das regras da família? Como você não retribui o mal com o mal enquanto corrige um flagrante desrespeito à sua autoridade? Tenho seis sugestões.
1. Ensino Formal
Deve haver sempre um fluxo constante de ensino formal, em maior ou menor grau. Chame isso de catecismo, catequese ou qualquer outra coisa. Você precisa de um ensino constante no lar onde, de maneira apropriada à idade, você explica o significado da Bíblia.
Isso inclui passagens sobre crianças obedecendo e respeitando os pais e sendo gentis e generosos com os irmãos. Inclui como os pais são chamados a ensinar e disciplinar e não provocar seus filhos para o bem deles. Você vai ensiná-los como todos devemos amar nossos inimigos, fazer o bem àqueles que nos odeiam. Ensiná-los como retribuir o mal com o bem e abençoar aqueles que nos amaldiçoam.
Com o tempo, esse fluxo contínuo e constante incluirá esforços para ajudá-los a entender que existem estruturas de autoridade. Como pai-filho, policial-civil, pastor-membro da igreja, marido-esposa, cidadão-governo, por exemplo. Essas são estruturas de autoridade que Deus criou que dão forma diferente à forma como amamos uns aos outros.
Em outras palavras, Deus deu aos pais um papel de amar seus filhos que ele não dá aos filhos. E vice-versa. Assim, pais amam seus filhos de maneiras que filhos não amam seus pais. Por exemplo, ensinando-os e estabelecendo limites, mostrando-lhes as consequências que acontecem no mundo real se você desrespeitar a autoridade dada por Deus.
Em outras palavras, ao lado das milhares de interações diárias na família, que também educam, estou dizendo que deve haver um fluxo constante (todos os dias, praticamente) de ensino que forneça uma peneira cada vez mais abrangente — uma peneira bíblica através da qual uma criança passa a entender o mundo cada vez mais e toda a dinâmica relacional do lar. Então essa é minha primeira sugestão, esse fluxo constante de ensino.
2. Esforço de Equipe
Acho que uma das razões pelas quais Deus projetou as famílias para normalmente terem um pai e uma mãe em vez de apenas um dos dois é que isso cria possibilidades maravilhosas de interação com as crianças que exibem tanto a vigilância de um adulto sendo respeitado quanto a humildade de um adulto que não retalia.
Se uma criança é muito desrespeitosa com sua mãe — por exemplo, digamos que você tenha uma criança de doze anos, ou talvez uma criança de apenas quatro ou quinze anos — e ela diz algo muito desrespeitoso para sua mãe, e o pai está na cozinha. Aquele pai vai até a criança, e a mãe ainda não disse nada, e ele pega seu filho pelo braço de forma que a criança sabe que significa algo realmente sério. O pai segura seu braço, e ele o olha bem nos olhos e diz: "Você não pode falar com sua mãe dessa maneira nesta casa".
A mãe, por sua vez, tendo sido defendida pelo marido, não comunica ter ficado ofendida com autopiedade — "Oh, pobre de mim". Esse tipo mágoa com autopiedade cria relacionamentos realmente doentios no lar. Ao mesmo tempo, ela não comunica uma sensação presunçosa de que a criança recebeu o que é devido. Em vez disso, o que ela comunica é um comportamento de amor que diz: "Filho ou filha, eu quero o melhor para você, mas o papai está certo".
Existem dezenas de cenários (a meu ver) em que a interação de mãe e pai captura os dois lados da tensão entre a paciência humilde, de lado, e a repreensão severa, de outro. Essa é minha segunda sugestão.
3. Serviço
Aqui está um terceiro: Muitas famílias são famílias monoparentais. E muitas vezes durante o dia, uma família com o pai e a mãe tem só um dos dois com as crianças, certo? Como oito, talvez dez horas por dia, a mamãe pode ser aquela que tem que suportar todo o fardo da disciplina. Então, quais são algumas das maneiras de ajudar uma criança a ver tanto a humildade e serviço na vida cristã de seus pais, bem como a forte autoridade designada por Deus a ser respeitada e obedecida?
Aqui estão apenas alguns pontos:
- Evite correlacionar a raiva com a exigência de respeito. Insista no respeito. Exija respeito em tom de força sem raiva. Fale sobre o assunto em tempos de felicidade. Fale sobre respeito e obediência em tempos de alegria, não apenas em tempos de crise raivosa.
- Deixe que as desculpas apropriadas que você deve a seus filhos sejam tecidas em sua vida. Nunca pense: "Oh, isso vai enfraquecer minha autoridade se eu me abaixar e pedir desculpas por algum tom de voz que usei esta manhã". Não enfraquecerá sua autoridade se você for amorosamente forte quando deveria ser.
- Desempenhe o papel de servo constantemente em todos os seus relacionamentos que a criança está observando, incluindo seu relacionamento com a própria criança. Não se comporte apenas como um chefe.
Muitas crianças sentem-se assim: "Eu sou apenas um escravo aqui. Tudo o que eles fazem é dizer: 'Faça isso, faça aquilo, faça, faça'" Servi-los não significa guardar os brinquedos quando você disse a ele para guardá-los. Muitos pais cedem e pensam que é humildade. Agir assim não é humildade — é tolice. Mas servir pode significar surpreender seu filho limpando seu quarto antes de pedir para ele limpá-lo, ou oferecendo-se para levá-lo de carro a algum lugar, quando adolescente, antes que ele pergunte.
Aqui está um aviso: As crianças — incluindo adolescentes, talvez especialmente esses — demoram a ver estas coisas como de fato são, serviço da mãe ou do pai. Podem-se passar vinte anos até que mamãe e papai ouçam de volta em uma carta como estão com o coração partido gratos pelo que fizeram e como foram ingratos por tantos anos.
Eu enchi minha mãe de agradecimentos em meus vinte e poucos anos. Eu a agradeci cem vezes mais do que quando tinha quatorze, quinze e dezesseis anos. Tenho vergonha disso. É com isso que os pais devem contar.
As crianças supõem que os pais tem obrigação de servi-las, e você não pode fazer muito a respeito disso sendo uma mãe amorosa, firme, atenciosa e sacrificial — exceto orar para que, quando completarem 25 anos, você receba uma carta ou um telefonema com o coração partido em generosa gratidão deles a você.
4. Deleite
Deixe que o tom dominante do relacionamento seja de alegria em seu filho. Deixe que ele sinta-se querido, admirado e apreciado, não apenas corrigido e instruído. Caso contrário, ele sentirá que você está apenas usando-o para sua facilidade própria, não para o bem dele.
5. Humildade Verdadeira
Não iguale humildade com clemência, como se a única maneira de comunicar humildade fosse não exigir obediência rigorosa. A humildade, na verdade, é o elemento necessário para negar-se o conforto de não lidar com a desobediência de uma criança.
6. Graça
E, finalmente, ensinar graça e misericórdia significa que, de vez em quando, quando a sabedoria mostar, você de fato não punirá uma ofensa punível apenas para dar à criança um gostinho dessa forma de graça, sabendo que exigir obediência na maioria das vezes também é uma forma de graça. Mas você não negligenciará a disciplina com tanta frequência a ponto de a criança começar a ver isso como a ação esperada.
Portanto, a paternidade e maternidade é uma arte, não uma ciência. Devemos orar constantemente pela sabedoria do alto, como diz Tiago 3.17-18: "A sabedoria do alto é primeiramente pura, depois pacífica, mansa, aberta à razão, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. E uma colheita de justiça é semeada em paz por aqueles que fazem a paz."
Nota: Os textos traduzidos e publicados neste blog não refletem, necessariamente, todas as crenças da Editora Shemá e de sua equipe. As opiniões e posições expressas são de total responsabilidade do autor. Nossa intenção é oferecer conteúdos informativos que possam apoiar as famílias brasileiras em sua caminhada de fé. Reforçamos que cabe a cada família, à luz das Escrituras, avaliar e discernir se cada reflexão contribui para a edificação do Reino de Deus.
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